Wednesday, November 20, 2019

Sangra-me da noite
Lambe-me o coração por dentro
Canta-me no segredo das células
Que dão tecido à minha voz
Cavalga o suspiro do esvaziamento
Dos sentires e das névoas
Desfiladeiros agudos da memória
E do esquecimento
Atira-te a mim
No tiro certeiro de me veres nu
E cru
Na forja subterrânea do instante
Estrondo ser e perder
Na corrente gráfica da impermanência
Que rasga regra e decência
Detonação precisa da demência
Trincando as polpas do sentir
Voo estratosférico que te mergulho
Os gritos são a glória do início
E amar-te é ser-me chão e precipício
Veludo e fogo de artifício
E de asas vermelhas pulsantes
Abraçamo-nos no sono eterno dos amantes…

Wednesday, October 30, 2019

Debaixo da sombra anestesia
Irrigação de chumbo e paralisia
Encontrei altares e sementes
E joias reluzentes
Para lá de deus e do medo
E da mordaça do segredo
Encontrei fontes e continentes
Novas danças e novas gentes
Além do errado e do certo
E da fortaleza dos maldizentes
O longe tornou-se perto
E os olhares já são ardentes
Acima de mim eu vi-te a ti
E abracei-te e eras eu
E se não fosse o que morri
Não me seria neste céu.

Friday, September 13, 2019


O silêncio percorre a superfície
Dos sonhos do brando homem
E os seus gestos de artificie
Nas rotinas que o consomem 

O silêncio das mulheres que calam
Por séculos de aprender a calar
Pois são os seus olhos que falam
No espaço entre querer e amar 

O silêncio nas vozes sonoras
Por medo do que o silêncio evita
Entre o tique taque das horas
E a verdade do que as fita 

O silêncio do fim do amor
E o amor no silêncio do fim
O rasgo que acorda o torpor
E o silêncio que me traz a mim.