Tuesday, December 11, 2018

Entre o ódio e a reverência
A lucidez e a demência
Há mais ser e mais segredo
Há mais cor para além do medo

Há mais rostos de esperança
Liberdade pela dança
Beleza que se alcança

Além dos slogans mercantis
E ataques aos perfis
Do plástico do Facebook
E do ruído do Tuk-tuk

Há olhares que se amam
Silêncios que se exclamam
Mistérios que se derramam

Há muito mais do que escrevo
Cheiro de chuva e trevo
Sorriso no calor do abraço
Voo que alegra o espaço

Há mais cor para além do medo
Há mais ser e mais segredo
Para além do like e do estado
Há mais ver e mais sagrado…

Tuesday, November 27, 2018

A música ensopa-me os poros
Em ondas lúcidas de existência
Lavando murmúrios e choros
Soltando fome e ardência


Teus olhos agarram-me dentro
Pulsando em órgãos e mistérios
Sísmica beleza sem epicentro
Criadora de rotas e impérios

Danças pela nobreza que te move
Estandarte da vitória da vida
Egrégia verdade que me comove
Gesta fecunda e florida

Deixo-me deixar-me a olhar-te
Religiosidade do convertido
Rendido ao fado de amar-te
E pelo teu dançar ser ungido

E se na morte vier o fim
Inescapável fatalidade
Sou o infinito que me dás a mim
Na tua dança amor e eternidade

Glorifico-me de ser-me por assim seres
Santifico-me de ver-me por ver-te a ti
Ilumino-me inteiro por resplandeceres
E abençoo de vida tudo o que morri.

-----English------

The music floods my pores
In lucid waves of existence
Washing murmurs and cries
Releasing hunger and burning

Your eyes grab me inside
Pulsating on organs and mysteries
Seismic beauty without epicenter
Creator of routes and empires

You dance by the nobility that moves you
Life’s Victory Banner
A noble truth that touches me
Fertile and flowery gestation

I let myself letting me look at you
Religiosity of the convert
Rendered to the fate of loving you
And for your dancing to be anointed

And if in death comes the end
Inescapable fatality
I am the infinitude you give to me
In your dance, love and eternity

I glorify myself for you being you
I sanctify myself by seeing you
Enlighten me whole by your resplendent being
And all that I’ve died I now bless with life.

Thursday, May 3, 2018

Desfilam palavras vazias
Arcas que perderam tesouro
Slogans e estereotipias
Chumbo pintado de ouro
 
Gestos ferramenta e espelho
Sorrisos néon e balcão
Salmos de um novo evangelho
Hologramas do coração
 
Mercantilização do afeto
Novos vendilhões do templo
E o menu está completo
São os mártires do exemplo
 
É o que é e assim será
Queira ou não queira, diga ou não diga
Porque o que temos é o que há
E é uma canção muito antiga.

Se este amor não fosse


Por tão frágil, quase intangível

Na infinita rede de causalidades

Necessárias ao ter sido

Bastava um elo não ter acontecido

Um “se” ter sido outro “se”

Um passo ter ido para norte

Quando deveria ter ido para sul

Um olhar não ter sido olhado

Uma escolha, ter sido outra escolha

Para que o amor não fosse

Este amor que é

E que eu sou

Por este amor me ser

 

Incomensuráveis possibilidades

De não ter sido

Agulha num palheiro cheio de agulhas

Pedra preciosa escondida num Himalaia de pedras

 

Ínfima probabilidade do encontro de duas almas

Que se vislumbram

Através da cortina de seis biliões de seres

E de histórias de vida

 

Tanto, tanto… que poderia não ter sido

Por ter sido outra coisa

Por ter sido outra gente, outro olhar, outro possível

E no meio de tanto impossível, de tanto poder não ser

De tanto que quase não foi

Foi, aconteceu, e é, e vive

Este amor

Tão ínfimo, na sua raridade

Tão grande, na sua magestade

Virtualidade sub-atómica de vir a ser

Que se tornou Cosmos de eu me viver

 

E este tesouro

Que eu me encontrei

Vivo-o inteiro

Por te ter encontrado

E se amanhã já não for

E isso não sei

Será sempre para sempre

Por amar-te agora

Com tudo o que sou

Fui e serei

 

Por isso este amor que quase não foi

Aconteceu porque teve de ser

Lei da causa e consequência

Porque se este amor

Não tivesse sido

Seria absurda a existência.
 

If this love were not
Because it is so fragile, almost intangible
In the infinite network of causalities
That needed to exist for this love to exist
 
If just one link had not happened
And one "if" had been another "if"
One step had gone north
When should had gone south
 
A look that had not been looked at
A choice, to had been another choice
So that this love was not
This love that is
And that I am
For this love is me
 
Incommensurable possibilities
Of not becoming to be
Needle in a haystack of needles
Precious stone hidden in a Himalaya of stones
 
Unlikely probability of two souls meeting
That glimpse
Through the curtain of six billion beings
And life stories
 
So much ... that it might not had been
Because it could had been something else
Another people, another look, another possibility
And in the midst of so much impossibility, of being so
So much so that it had hardly been
It was, happened, and is, and lives
This love
 
So tiny, in its rarity
So great in his majesty
Sub-atomic virtuality of becoming
What became to be the Cosmos of me
 
And this treasure
That I met
I live it whole
Because I found you
And if tomorrow is no longer
And that I do not know
It will always be forever
Because I love you now
With everything I am
I have been and will be
 
So this love that almost did not existed
It happened because it had to be
Law of cause and consequence
Because if this love
Had it not been
It would be absurd to exist.

Monday, January 29, 2018

I wish (I can only wish) ...

That celebrating the birth
Of the Sacred Child
Would celebrate all children...
Because they are sacred


And that all Christmas cribs that are created
Showing the holy family
Would Celebrate all families
Mono, hetero , homo
Polyamorous and of all colors
For all love, which is Love
It's sacred ... and it's family.

And that the animals that decorate
The perfect postcard image
Would not be decorating items
But that could show us what is
Heart like
And Life
By the perfection of truth and instinct

And that the wise men
Could be us all
Assuming our greatness
Human (yes, with capital letter)
Royal and magical
Bringing gifts of beauty and love
To the world (this one, here near us)
In respect gestures and words poem

And that nothing would be more sacred
Than the Sacredness of Life

And that Christmas could be
In every now
And every always
When not fear, but
Love…
Is our Guiding Star.

Desejo (só posso desejar)…

Que celebrar o nascimento
Da criança sagrada
Fosse o celebrar ...
De todas as crianças
Porque são sagradas


E que os presépios que se montam
Mostrando a sagrada família
Celebrassem todas as famílias
Mono, hetero, homo
Poliamorosas e de todas as cores
Pois todo o amor, que é Amor
É sagrado... e é família

E que os animais que decoram
A imagem perfeita dos postais
Não fossem coisa de decoração
Mas nos mostrassem o que é
De coração
E Vida
Na sua perfeição verdade e instinto

E que os reis magos
Fossemos nós todos
Assumindo a nossa grandeza
Humana (sim, com letra grande)
Régia e mágica
Trazendo presentes de beleza e de amor
Ao mundo (este, aqui perto de nós)
Em gestos respeito e palavras poema

E que nada houvesse de mais sagrado
Do que a sacralidade da Vida

E que o natal fossem todos os agora
E todos os sempre
Em que não o medo, mas
O Amor…
Fosse a nossa Estrela Guia.

The sun rises in my bed every morning
When your poem and life eyes embrace me...

Receiving me in the perfect glory of Love
I’m a God with messy hair and night's leftovers

Boy beast that doesn’t recognize himself as being
Rises to the silent power of infinity

Delicate fountain in the high peak of feeling
Waters and tames me in the amazement of reaching my self

I agree and remember that I exist more in your eyes
There's more everything in your eyes
I see more because you look at me
And I'm better for you being in me

And you are so much for being and looking
You create the world I want to see
And to be...

Because you are...

Because without you the world would be less world
It would be less everything
And everything would be less

And the Sun, which is so Sun in it´s being Sun
Without you it would not be the same Sun
It would be just a small warm candle
Silly joke in the morning
Rough draft of a vain form

Because it is yours the rising Sun on my bed
Every morning

It´s yours the Sun that rises every morning and creates me, the world and the laughter of children

It is yours the sun that gives color to colors and wind to the the seas
It is yours the sun that gives myself to me, whenever you look at me...

O Sol nasce-me na cama, todas as manhãs
Quando os teus olhos poema e vida me abraçam
Recebendo-me na perfeita glória do Amor...

Sou deus despentado e com as sobras da noite
Menino fera que se desconhece como ser
Que se eleva à silenciosa potência do infinito
Delicada fonte no alto cume do sentir
Que me rega e desbrava no espanto de me alcançar

Acordo e recordo que existo mais no teu olhar
Que existe mais no teu olhar
Que olho mais por me olhares
E sou melhor por tu me seres

Onde és tu tanto por seres olhar
E a olhar crias o mundo que eu quero ver
E ser…

Por seres…

Porque o mundo sem ti seria menos mundo
Seria menos tudo
E tudo seria menos ser

E o Sol, que é tão Sol no seu ser Sol
Sem ti não seria o mesmo Sol
Seria uma vela morna e anã
Piada parva na manhã
Esboço tosco de forma vã

Porque é teu o Sol que me nasce na cama
Todas as manhãs
Em mim, no mundo e no riso das crianças

É teu o Sol que dá cor às cores e vento aos mares
É teu o Sol que me dá a mim, sempre que me olhares…

A ti...

Imutabilidade na irresistível fervência do sentir
Broto urgente e impossível nas margens da ousadia
Já não restam as ossadas dos apetites primeiros...
Último respiro e gritar de opulência
Dança abrupta no sexo da existência
Garra a esventrar o véu da dormência


Radica no início a tua imparável divindade
De caminhos infinitos e mistérios de tudo
Irrefutável abismo no seu evidente absoluto
Clareza humilde do vencido amante
Que por tanto amar torna perto o distante
Gestos semente e carne exuberante

Vida dissiminada na efervescência do olhar
Palavras silêncio frescura na sombra da quietude
Lágrimas que voam na direção do arco-íris
E o teu nome celeste na minha alma impresso
Tão fundo me mora que já sei e confesso
Que por me teres tu és de mim o regresso.