Wednesday, February 13, 2008

Escrevo do sangue
Da lágrima mordida
Do grito apagado
A queimar por dentro

Escrevo da paz e do sonho
Que me chega de mansinho
Por estar deitado na vida
Ao sol dos meus amores

Escrevo porque não sei
E escrevo porque não quero
Nem sei se vou querer
Querer mais do que sei

Escrevo para escrever
Dou som ao que sinto
Trago verdade ao que minto
Entorno-me em palavras

Escrevo para sair para fora
Para a rua dos olhares
Abrindo-me em janelas
Onde o mundo vem conversar

Escrevo porque sim
Não sei fazer diferente
Habitam-me outras histórias
Que me movem o olhar.

Ubiquidade de ti
Em mim
Vejo-te
Por todo o lado
Do que sou

E vejo-te
Sempre
Que me olho
Lá estás tu
No meu sorriso.

Estes corpos mentem
Dançam-se nocturnamente
Para se perderem
Não sabem que o sentir
È galope de fugida
Das sombras dos seus vãos

Não merecem ser poupados
Da vida que os eleve
Por os levar ao fundo
E lá, onde são órfãos no deserto
Os seus desejos são explodidos

È o rosto da noite universal
Que os acolhe no tormento
No milénio sem sono da solidão
Despidos de si mesmos nesta viagem
Ao fundo dos fundos de ser pessoa

Aí, onde já nada resta do que restava
Nasce aquilo que traz a luz
A consciência de que a dor já não é dor
Que não é deste mundo o que ganhamos
Por nos morrermos de quem sempre fomos.

Sou letra
Som
Imagem
Símbolo
De mim mesmo

Num universo que fala
Desenha
Desdenha
O que sou

Leio-me
Declamo-me
Descodifico-me
Pacifico-me

Na aventura mística
De ler o universo
Nas minhas entrelinhas
Nas páginas vazias de fazer

O silêncio de já ser.