Tuesday, October 30, 2012


 Olhar supremo
Subitamente eterno
Como as flores da inocência
Na manhã do primeiro dia 

Olhar que me corre dentro
Que me percorre dentro
Plantando oásis nos cantos da fome
E sonhos de vida no cantar de menino 

Olhar que descobre a lágrima de sal
Que se traz à luz do amor
Desde a remota nascente invernosa
Dos gestos trémulos e dos passos perdidos 

Olhar que me abre o olhar
Que me abre o (a)mar interior
Onde navego com bússola coração
Zarpando, imenso, da deserta praia solidão 

Cheguei ao teu olhar
E ao chegar, tão longe que cheguei
Foi a mim que encontrei
No fundo, mais fundo, do teu olhar.

 

 

Sunday, October 14, 2012

Dedos pétalas
Riachos de arrepio
Na paisagem suave
Da carne

Inquietação
Do torpor

Ondas quentes
De veludo vermelho
Inundam a enseada
Do desejo

Na margem do suspiro
Desdobra-se
Em quási-movimentos
Um fulgor aquém-memória

Germinação do sentir
Na floresta adormecida
Vale secreto do éden

A noite
Quente
Ronrona sobre os gestos
Manto que embala
O acordar da febre

No casamento da pele
Desvenda-se
O florescer sanguíneo
Que se abre ao beijo da vida

É o convite eterno
E terno
Nascente do grande rio sagrado

Majestade da doçura fervente
Coluna de fogo e mar
Descobre a rota do delírio

Até ao fundo mais fundo
Dos recantos da delícia

O gotejar de universos paraíso
Na gruta encantada do tesouro
Vai desnudando o dique
Que segura as formas

O caudal da fome
Escancara a carne
E transborda o ser
Obliterando as margens do sentir

O grito da Vida explode em infinito

Tremor soluçante dos perdidos
Que se encontraram nas alturas de si

Vertigem incomensurável da queda abrupta
No avassalador terramoto do prazer

Planetas de êxtase que se fundem
No glorioso mistério do início dos tempos

Deslizam Corpos Oceano
Espraiados à sombra da eternidade
Entregues às jóias do carinho

A pele não se destingue
Na beleza dos frutos da carne

E mesmo antes de adormecer
No sopé da grande Deusa-Montanha

Aquilo que toca o olhar
É o rosto do Amor.

Wednesday, October 3, 2012

No espanto do fascínio
Sou tomado pelo delírio da beleza
Pelo fogo que eleva
E rompe as margens do impossível

Brisa que beija o corpo inteiro
Vaga que toca no segredo do prazer

E do prazer irrompe o bosque encantado
Mistérios sagrados da vida emergente

Carne na liquidez do êxtase
Colo primordial que funda a existência

Na pele oceano navegam naus de deslumbre
Prados viçosos de flores carícia e mel
Perfumes e cores do horizonte paixão

Sou o centro e sou a margem
Sou o olhar e o Universo
Sou o corpo e sou o Céu

Sou o que tu és
Ao seres em mim

E o beijo que me despertas
É o útero de onde nasço
Para a glória de me cumprir.