Thursday, December 13, 2012


Os teus mamilos
São de fogo e são de vento
Na minha cobra língua
De ti tem estado à míngua 

São fogo porque ardem
Soltam chispa que me entumece
Carne quente do meio de mim
Grito carnal a dizer que sim 

São vento porque levantam
As velas do meu mastro
Deste oceano caravela
Que por te tocar se revela 

Os teus mamilos
São vesúvios rosados
Em erupções sempre novas
De meu desejo as trovas  

Sorvo-te os mamilos
Entrego-me a eles devagar
Para os dar a mim que mereço
Em prazeres que não confesso 

Lambo em febre os teus mamilos
Arrepios de vertigem a que me deixo
Vou tão longe neste sonho desperto
Por de ti eu estar tão perto 

Dou-te trinquinhas nos mamilos
Vontade de beijar a morder
Porque beijar-te é tão pouco
Neste desejo sufoco 

Ai, tão bom deixar-me ir
Deixar-me abraçar por esta tontura
Boca desejo a cobri-los
Sonhos de amor, teus mamilos. 

Tuesday, November 27, 2012


Chegou-me o demónio na noite 

Por vezes a noite chega como noite
Outras a noite chega como ser
Que traz o ser que somos
Ou que sentimos que somos 

Por ser 

Já vivi muitas noites demónio
Muitas 

Agora... 

Tento rodear-me o mais possível de anjos
Para que me venham na noite  

Por vezes o demónio volta
Como hoje 

Eu tento abraçá-lo
Como se abraça o escuro da noite
E as dores dos nossos filhos 

Afinal...
 
O demónio é só um anjo ferido.

 

Friday, November 23, 2012

Um sussurro doce e límpido
Como um riacho no veludo do musgo
Acordou-me a pele e as estrelas

Palavras carícia e sopro quente
Marotice do encantamento
Hipnose de astro que se inquieta

Mulher corpo lançando feitiço
Na fogueira dos afetos primeiros
Reacordar da fénix sanguínea

Prazer de resistir ao prazer
Desejo de desejar mais desejo
Nutrido na fome de si

A noite acende-se para o céu
O universo destapa-se dos lençóis
E, no instante anterior à criação

Retorno a mim no teu abraço.

Thursday, November 22, 2012

Escorre-me o tempo
Nas têmporas
O despeito
Afunda-me o peito

Mas são os dizeres sábios
Que me lambem os lábios
Que me deixam surdo
E contrafeito

Quero que a mudez
Me colore a tez
E que o ruído
Se cale de vez.

Porque queres despir-me das sombras?
Porque me recusas a noite?

Se queres a minha intensidade dentro de ti
Deixa-me a intensidade dentro de mim

No poço do segredo
Estão as formas do indizível
As memórias do degredo
As fomes do impossível

Deixa-me que me deixe sentir
Sente-me a deixar-me deixar

E quando me encontrares perdido
Perde-me... para me encontrares.

Tuesday, November 13, 2012


Sou o filho do céu e do inferno
Brilham estrelas no meu vazio
Lanço fogo que rasga do frio
Vulcão aceso na noite de inverno


Sou flor que ruge por entre alcatrão
Dor que fica do gozo arrojado
Fita vermelha em uniforme rasgado
Chuvada intensa em mês de Verão

Sou vaga que bate nos adamastores
Sonho de preso no forte dos bons
Não sofro de cismas, virtudes ou dons
Nem das febres dos sábios doutores

Sou a sombra desperta no nevoeiro
O riso na véspera da multidão
Anéis de saturno ao alcance da mão
Abraço do Mundo no corpo inteiro

Sou a força gentil do amor verdadeiro
Sou todos aqueles que em mim são.

Monday, November 5, 2012

No espaço entre palavras
Desfiladeiros do indizível
Vive o infinito silêncio
As possibilidades sem fim

Em tudo o que há por dizer
Nada diz o que vou sendo
E de dizer me arrependo
Ao limitar-me assim

Escrevo sem saber aonde vou
E quando lá chego nunca lá estou
Mas é neste caminho para não me encontrar
Que me encontro a mim.

Sunday, November 4, 2012

 

Traz-me a noite ao sentir
Chama os pássaros dourados
Se morrer é partir
Parto e levo os pecados 

O vento sopra onde quer
A chuva molha onde cai
Sombra amarga mulher
Dá-me peso e não sai 

A muralha resignada
Que te guarda o rosto
É uma estátua de nada
Fenda no chão do desgosto 

O tempo que não te perde
A  fúria que não te esgota
A paciência que já fede
A esperança já está rota 

Ainda assim ergo o queixo
Abro o peito à aurora
E é no amor que me deixo
Enquanto o segredo me chora.

Tuesday, October 30, 2012


 Olhar supremo
Subitamente eterno
Como as flores da inocência
Na manhã do primeiro dia 

Olhar que me corre dentro
Que me percorre dentro
Plantando oásis nos cantos da fome
E sonhos de vida no cantar de menino 

Olhar que descobre a lágrima de sal
Que se traz à luz do amor
Desde a remota nascente invernosa
Dos gestos trémulos e dos passos perdidos 

Olhar que me abre o olhar
Que me abre o (a)mar interior
Onde navego com bússola coração
Zarpando, imenso, da deserta praia solidão 

Cheguei ao teu olhar
E ao chegar, tão longe que cheguei
Foi a mim que encontrei
No fundo, mais fundo, do teu olhar.

 

 

Sunday, October 14, 2012

Dedos pétalas
Riachos de arrepio
Na paisagem suave
Da carne

Inquietação
Do torpor

Ondas quentes
De veludo vermelho
Inundam a enseada
Do desejo

Na margem do suspiro
Desdobra-se
Em quási-movimentos
Um fulgor aquém-memória

Germinação do sentir
Na floresta adormecida
Vale secreto do éden

A noite
Quente
Ronrona sobre os gestos
Manto que embala
O acordar da febre

No casamento da pele
Desvenda-se
O florescer sanguíneo
Que se abre ao beijo da vida

É o convite eterno
E terno
Nascente do grande rio sagrado

Majestade da doçura fervente
Coluna de fogo e mar
Descobre a rota do delírio

Até ao fundo mais fundo
Dos recantos da delícia

O gotejar de universos paraíso
Na gruta encantada do tesouro
Vai desnudando o dique
Que segura as formas

O caudal da fome
Escancara a carne
E transborda o ser
Obliterando as margens do sentir

O grito da Vida explode em infinito

Tremor soluçante dos perdidos
Que se encontraram nas alturas de si

Vertigem incomensurável da queda abrupta
No avassalador terramoto do prazer

Planetas de êxtase que se fundem
No glorioso mistério do início dos tempos

Deslizam Corpos Oceano
Espraiados à sombra da eternidade
Entregues às jóias do carinho

A pele não se destingue
Na beleza dos frutos da carne

E mesmo antes de adormecer
No sopé da grande Deusa-Montanha

Aquilo que toca o olhar
É o rosto do Amor.

Wednesday, October 3, 2012

No espanto do fascínio
Sou tomado pelo delírio da beleza
Pelo fogo que eleva
E rompe as margens do impossível

Brisa que beija o corpo inteiro
Vaga que toca no segredo do prazer

E do prazer irrompe o bosque encantado
Mistérios sagrados da vida emergente

Carne na liquidez do êxtase
Colo primordial que funda a existência

Na pele oceano navegam naus de deslumbre
Prados viçosos de flores carícia e mel
Perfumes e cores do horizonte paixão

Sou o centro e sou a margem
Sou o olhar e o Universo
Sou o corpo e sou o Céu

Sou o que tu és
Ao seres em mim

E o beijo que me despertas
É o útero de onde nasço
Para a glória de me cumprir.

Thursday, August 9, 2012


As palavras são sempre sombras
De fantasmas que não existem
Vazios com peso de pedras
Que delimitam feridas por abrir
Vislumbre de não sentir
São a ínfima penumbra
Entre o sonho e o partir
Corações de mármore branco
Suspensos do esquecimento
Na tangente do infinito
E do medo que está para vir
As palavras são punhais de nada
Que esfaqueiam o nevoeiro
Um zero cortado ao meio
Ausência recortada
Numa vida sem surgir
São a véspera do segredo
Muro na ilha do degredo
Estátua partida no chão da fome
Presença inerte que não tem nome
Rumo ao cego que não quer ouvir
As palavras não têm porta
E isso que importa
Não há nesse umbral que valha a pena
E a descrença não é pequena
E o poeta não quer sair. 

Friday, June 29, 2012


A tua beleza explode-me no peito
Lança de fogo abrupta
No centro do gesto eleito
Que me absolve da luta
A minha pele sorve-te o encanto
Rio de mel em campo de flores
Desagua no meu secreto recanto
Bebedouro de todas as dores
Um recém-nascido Universo
Dança no meu interior
Galáxias de sentir em verso
Constelações do signo Amor
Sou o Primeiro Homem na Terra
A olhar o fulgor da Vida
Já não há bandeiras na guerra
Apenas a alma a ser cumprida.

Saturday, May 26, 2012

Vou sendo o que sou
Sendo o que vou
E vendo o que sou

Mesmo que não seja o que vejo
Nem veja o que sou

E quando não vejo o que sou
Quando estou a ser
Sou, a não ver o que sou

E a não ver o que vou sendo, sou
O que vou sendo sem ver.

Friday, April 20, 2012

O TEU ABRAÇO

Quando me recebes no teu abraço
Eu regresso e parto ao mesmo tempo

Retorno à origem do sentir
Início da grande viagem aguardada

Fundo-me no teu peito de fogo líquido
Memória dos pastos sagrados
Anteriores às religiões do Homem

Odores da certeza da carne
Corpo suspenso de si
No infinito deste céu

Gotejo-me para o fundo do prazer
Em que o não eu se torna tudo
Diluído pelo êxtase da vida a sentir-se vida

O tempo colapsa-se no mistério criador de oceanos

E eu, que deixei de ser eu
Sou mais eu do que nunca e sempre

Porque é no segredo do teu abraço
Que eu me sinto quem quero ser.

Wednesday, March 28, 2012

Versos corridos com o mote EU SOU

Eu sou

O mar de Agosto
O perfume do prado recém nascido

Eu sou
Sou eu

A nota musical que brilha nas lágrimas
Poema entregue à vida

Sou

Sou o ser que é
Sem ser o que é

Sou o som de: Eu sou

Sou esta página
Não sou

Acabo de ser
O ser inacabado de ser

Sou o teu olhar
Olho o teu ser

Canto o ser
Sou o canto

E a vida
Que é em mim

Sou a noite
Sim, sou a noite

Sou e não sou
Porque não deixo de ser
Aquilo que não sou
Sendo aquilo que sou

Sou o não sou

Sou tudo

Sou o amor que ama
E amo amar o amor

Eu sou aquilo que amo

Eu sou tu
Tu és eu

Sou quem tu és
Porque ambos somos o ser que é

Eu sou nós

Porque o que eu sou
É-me dado pelo que és em mim.

Tuesday, March 13, 2012

Poemazito teimoso, que saiu por sair

hoje nasceu do meu peito
o desejo de te beijar
e assim, por desejar
beijo-te por beijar
que desejar por desejar
É o meu desejar eleito

Friday, February 24, 2012

Mulher Dança

Filigrana de gestos labareda
Esculpem de existência o nada
Carne que se antecipa à queda
A verdade é a sua espada

Olhar seara e infinito
Montanha régia de ser
Nascente de sonho e mito
Fome de desaprender

Desejo hasteado no mundo
Vermelho como a seiva da vida
Sentir que se enraíza no fundo
Da sua identidade cumprida

Cabelo ao vento esperança
Coroa de espiga e malmequer
Enamoro-me da tua dança
Deusa de encanto, Mulher.

Thursday, February 16, 2012

VERSOS IMPERFEITOS SOBRE A PERFEIÇÃO

Amar é olhar com o coração
E o coração não julga, sente
E naquele instante presente
Está contida a perfeição

É perfeito aquilo que existe
Se não quisermos mais do que seja
Pois querer diferente do que se veja
Não é perfeição que se conquiste

Perfeito é ver como respirar
Natural como a erva na estrada
Que não quer que seja nada
Diferente de ali só estar

A perfeição é o amor a olhar
Que por amar tal como vê
Diz ao que ama: mostra-te e sê
E mais não sejas que ser a amar.

Tuesday, January 24, 2012

Sou o centro ampliado do gesto
Volúvel como as sombras na neve
Suspira-se na antecâmara da palavra
O broto pulsante de infinito
Que acede à vertigem de ser

Sou a floresta mais antiga que o olhar
Vento que desbrava a certeza
Sulcos de ritmo despido e sanguíneo
Borbulham na seiva luminosa do meu peito
A dança veste-se de mim e do sopro universal

Sou inteiramente vivo e escancarado
Pela força serena e brutal das manhãs do princípio
Arrancado da lisura adormecida
Tomo a forma da paixão urgente dos náufragos
Dançando a criação do mundo no estrondo de quem se mergulha

Sou e serei
O rosto de céu dos virgens fecundos
Paraíso ondulante e descalço que se pare em cada gesto

Sou e serei
A dança que em mim se dança e sem mim já era dança
E desde o tempo em que o tempo é tempo brilha nos olhos de uma criança.

Na véspera do sentir
Abri a janela dos dias

Pássaro incolor debruçado
Na réstia esquiva da memória

Útero subversivo
Remissão do tempo perdido

Alcance do grito primal
De quem nasce sozinho

Viver à sombra dos embates
Das máscaras soluçantes

Semente de fogo que rasga
A pele rugosa do inevitável

É tempo de ser presença
Vida sempre e criança

No sal estupefacto da lágrima
Cresce a rosa do amor.

Palavras de pedra
Abruptas como a morte

Sulcos na margem do olhar
Enquanto sombras liquefeitas
Rasgam o espaço entre os dias

Abrir o sangue, abrir
Ao sopro da vertigem concreta
Na fome dos passos de inverno

Escasseia a carne no sentir
E a febre de partir
Entrançado de lágrimas na rota dos vencidos

As pegadas no teu peito
São o rosário da minha descrença
E já nem sonho sonhar em ter esperança

A música fechou-se no teu ventre antigo
E a garra que me marca sempre esteve contigo.

Tuesday, January 10, 2012

Do fundo do teu bosque antigo irradiam riachos de luz verde-esmeralda
Tremeluzem encantos na sombra das árvores, raízes poemas no abraço das copas

A terra respira-se no espaço ínfimo entre o sonho e a palavra
Teu peito desnudo cumpre a saga do amor

Lágrimas de assombro no mar da despedida, a boca vermelha no murmúrio do prazer

Mas é a tua noite de céu sistino que relembra a vitória da dança
Prado diamantino acima da memória, vento de março que traz o regresso

Hoje és Tu, ante e após o impossível
Rugido imperial dos Vivos pela ousadia de ser carne... e verdade

A marca do teu voo angelino esculpe os gestos do amor
Sobre os cumes da poesia, nos rostos altivos dos deuses

Serás sempre quem te ama
Pois quem te ama é mais ser
E amar...
É ver-te a Ser.