Sunday, November 22, 2009

A menina Pinóquio

Feita de carne e vontade

Aprendeu o que é próprio

A uma menina da sua idade



Para agradar ao carpinteiro

Senhor do bom e do mau

Anulou-se por inteiro

Tornou-se menina de pau



Agora fios invisíveis

Estão a guiar-lhe os gestos

E dos mundos possíveis

Só lhe sobraram os restos



Não suporta a verdade

Nem a vida que é acesa

Vive-se pela metade

E precisa de certeza



Defende de queixo erguido

O senhor que a manobra

Que lhe criou o sentido

Na tentação da cobra



Ai que o prazer é maldito

O sacrifício é que eleva

O sentir é proscrito

E da luz fez-se treva.

Wednesday, November 4, 2009

Que a dor de ser
Não me faça
Um ser de dor
E que beber
Da rubra taça
Me traga o amor.

Nas galés da produção
Ao som do chicote sucesso
Congela-se o coração
Não se lhe pode dar preço

Ecoa o tambor da escassez
Ainda falta o que satisfaça
Nunca chega o que se fez
E a fome que não passa

Mantêm o desejo nos curros
Conforto de não ousar
Minguam o touros a burros
E alegram-se a comprar.