Tuesday, October 21, 2014

Movem-me as pétalas do sorriso
As chamas loucas do paraíso
Corro, danço, voo, canto a vida de improviso
Palhaço, mágico, mendigo, e, na dúvida, pouco sizo

Não sei nada, juro que não sei nada
Por vezes, no silêncio, surge a cacetada
É som, é rasgo, é flor arrancada
Mas no alto de cada baixo vence a gargalhada.

Wednesday, October 8, 2014

A pérola como flor
O desejo como andor
Da Santa Liberdade

Na folha branca a verdade
Na cama branca a vontade

Ser poesia todas as manhãs
Não querer adormecer nas coisas vãs

Alto e baixo tudo é nexo
E da vida aberta ser o sexo

A carne mansa do mistério
Fronte, olhar, amor galdério

A boca na fruta acesa
Doces que tu fizeste sobre a mesa

Ser tudo o que o tudo almeja
E no teu rosto flor a minha igreja

Perante mim acordam os mitos
Por olhar-te sossegam os aflitos

Na tua paz será sempre dia
E o amor, por mais que fosse amor, nunca morria.

Monday, July 21, 2014

Eu já te conheço
Agora só quero saber o teu nome…

Fui arrebatado pelo calor da tua força
Pelo Universo de flores e aves do paraíso
Que te brilham no sorriso glorioso
Coroa imperial e corpórea da Vida a festejar-se

Em ti

Fui batizado pelas tuas lágrimas de alegria
Em nome da sagrada trindade da Beleza, do Prazer e do Amor
Na terra fecunda da presença regressamos ao primeiro começar
Quando a luz se tornou luz e o ar se tornou ar

Paridos pela Grande Mãe Dança
Rendemo-nos ao mistério de onde brotam os mistérios
Pois é à sombra do Amor que descansa a Criança Divina
Semente da inocência eterna que renova o mundo a cada suspiro

O teu olhar, brilhante e húmido, santificou-me
Tornou-me Deus Criador que se ajoelha perante si mesmo
Menino descalço feito coração e Verdade
Que dos gestos cria céus, mares e terras
E as musas de todos os poetas e artistas

Eu já te conheço, eu já te conheço…
Desde sempre…

Não, desde sempre não
Antes do tempo, antes do sempre e do nunca
Antes de haver antes e depois
Antes de haver palavras que falem do tempo e do sentir

Dancei contigo e por isso eu já te conheço
Mesmo quando não te conhecia

Por favor… já te conheço…
Agora só quero saber o teu nome.

Thursday, June 26, 2014

Besuntados de lama antiga
Corpos despejados no chão instinto
Enrolam-se com intensidade de briga
Sibilando-se no labirinto

Na potência febril que irrompe
Rugem as carnes e as memórias
De tempos criadores e glórias
Que já nem a palavra corrompe
...
Estertores pulsantes no centro
Onde agigantam os titãs
Fúria desejante adentro
Mais antiga que as manhãs

Raios certeiros da semente
Que a si dentro se envia
Assoma a verdade da Serpente
É na loucura da pele que o Criador se Cria.

Wednesday, May 7, 2014

 
Não vás ainda
Espera pelo mistério da carícia
Pela sombra esvoaçante
Poisada na lapela do silêncio

Espera
Não julgues este fruto
Pela couraça da semente
Nem lhe peças para mentir
...
Permanece comigo
Á beira do horizonte
Na véspera fecunda do sentir
Onde o olhar aguarda a permissão da alvorada

É agora, a viagem
Rotundo assombro da presença
Majestade insondável do suspiro
Glorioso arrepio do éden

Se ficares, irás descobrir
Que já é teu o céu prometido
Fica tão longe como o encontro da pele
E tão perto como o Universo que és.

Tuesday, February 25, 2014


O cheiro intenso da vida
Despenteia-me as certezas
Penetra-me o amanhã
Parte as algemas de coisa vã  

O sabor do beijo suado
Engravida-me de agora
De sempre e de viagem
Flecha do centro até à margem 

Acordo e rasgo as cordas
Atiro-me da altura da memória
No balanço do alcance
Sem ladainha que me amanse 

Na brutalidade certa do instinto
Rompem-se as comportas e as maneiras
Já não há virtudes nem asneiras
Elevação acesa do faminto 

A vida alimenta-se da sua fome
De ser mais vida, de ser mais tudo
E nesta fronteira me desnudo
É ao rugir que digo o meu nome!
 

Thursday, January 16, 2014

Danço como o vento de verão se derrama nas searas
Gestos horizonte e ouro, perfume e joias raras
Raízes de sangue, mitos e paixões do início

Subtileza pulsante da asa que vence o céu
Força vibrante do respirar que nunca morreu
Ponto mais alto e força da luz de solstício

Rumo à vida, ao sempre e à memória da chama
Flor ardente e mistério, religião de quem ama...
Vertigem de assombro e fé no passo do precipício

No paladar da pele ruge a selvajaria do instante
Febre, mar, terra farta e o gemido do amante
Muralha, sombra, templo e bandeira do armistício

Danço porque danço, insanidade dos crentes
Entorno-me no mundo sem mapa nem o freio nos dentes
Liturgia sagrada que me acende… desta coisa de Viver tenho o vício.