Wednesday, October 22, 2008

A caminho de Santiago com a vida às costas
Encontros sublimes com almas dispostas
Sacros Ofícios com tique de andaço
Gotejando o tempo ao ritmo do passo

Subindo as montanhas dentro de mim
Desertos de luta que ficam jardim
Estou-me mais perto de tanto andar
Mapas de mim só por respirar

O luxo de poisar o peso e o corpo
Dá-me céu por ter tanto em tudo tão pouco
Tudo é tão tudo e tudo é tão nada
E cada partida torna-se chegada

Dão-me laranjas e abraços de olhares
Bênçãos mezinhas e ventos solares
Encomendas de rezas aos pés do Santo
Madrugadas de chuva em mim como manto

Partilho-me em risos e bocados de pão
Durmo com estranhos que já o não são
Cada vez mais vida cada vez mais perto
O rumo que levo traz-me sempre desperto

Dou querer e presença e mais não tenho
Tudo é tão novo e tudo me estranho
Em tudo mais é o Caminho que manda
Em tudo o mais é o Caminho que me anda.

Friday, October 3, 2008

A tua carne é feita
Das palavras que te lançaram
Tens na pele o dicionário
Da língua que não escolheste
Mas que te fala
Mesmo sem quereres
Nos gestos e nos sons que emites

És feita de muita gente
Entrançada de muitas histórias
E nas tuas paixões ecoam mitos antigos
Rituais quotidianos de dar sentido
Ao seres a foz do grande rio
Aquele que se chama Vida
E que tem corrido desde a primeira luz.