Tuesday, January 24, 2012

Sou o centro ampliado do gesto
Volúvel como as sombras na neve
Suspira-se na antecâmara da palavra
O broto pulsante de infinito
Que acede à vertigem de ser

Sou a floresta mais antiga que o olhar
Vento que desbrava a certeza
Sulcos de ritmo despido e sanguíneo
Borbulham na seiva luminosa do meu peito
A dança veste-se de mim e do sopro universal

Sou inteiramente vivo e escancarado
Pela força serena e brutal das manhãs do princípio
Arrancado da lisura adormecida
Tomo a forma da paixão urgente dos náufragos
Dançando a criação do mundo no estrondo de quem se mergulha

Sou e serei
O rosto de céu dos virgens fecundos
Paraíso ondulante e descalço que se pare em cada gesto

Sou e serei
A dança que em mim se dança e sem mim já era dança
E desde o tempo em que o tempo é tempo brilha nos olhos de uma criança.

Na véspera do sentir
Abri a janela dos dias

Pássaro incolor debruçado
Na réstia esquiva da memória

Útero subversivo
Remissão do tempo perdido

Alcance do grito primal
De quem nasce sozinho

Viver à sombra dos embates
Das máscaras soluçantes

Semente de fogo que rasga
A pele rugosa do inevitável

É tempo de ser presença
Vida sempre e criança

No sal estupefacto da lágrima
Cresce a rosa do amor.

Palavras de pedra
Abruptas como a morte

Sulcos na margem do olhar
Enquanto sombras liquefeitas
Rasgam o espaço entre os dias

Abrir o sangue, abrir
Ao sopro da vertigem concreta
Na fome dos passos de inverno

Escasseia a carne no sentir
E a febre de partir
Entrançado de lágrimas na rota dos vencidos

As pegadas no teu peito
São o rosário da minha descrença
E já nem sonho sonhar em ter esperança

A música fechou-se no teu ventre antigo
E a garra que me marca sempre esteve contigo.

Tuesday, January 10, 2012

Do fundo do teu bosque antigo irradiam riachos de luz verde-esmeralda
Tremeluzem encantos na sombra das árvores, raízes poemas no abraço das copas

A terra respira-se no espaço ínfimo entre o sonho e a palavra
Teu peito desnudo cumpre a saga do amor

Lágrimas de assombro no mar da despedida, a boca vermelha no murmúrio do prazer

Mas é a tua noite de céu sistino que relembra a vitória da dança
Prado diamantino acima da memória, vento de março que traz o regresso

Hoje és Tu, ante e após o impossível
Rugido imperial dos Vivos pela ousadia de ser carne... e verdade

A marca do teu voo angelino esculpe os gestos do amor
Sobre os cumes da poesia, nos rostos altivos dos deuses

Serás sempre quem te ama
Pois quem te ama é mais ser
E amar...
É ver-te a Ser.