Thursday, May 3, 2018

Se este amor não fosse


Por tão frágil, quase intangível

Na infinita rede de causalidades

Necessárias ao ter sido

Bastava um elo não ter acontecido

Um “se” ter sido outro “se”

Um passo ter ido para norte

Quando deveria ter ido para sul

Um olhar não ter sido olhado

Uma escolha, ter sido outra escolha

Para que o amor não fosse

Este amor que é

E que eu sou

Por este amor me ser

 

Incomensuráveis possibilidades

De não ter sido

Agulha num palheiro cheio de agulhas

Pedra preciosa escondida num Himalaia de pedras

 

Ínfima probabilidade do encontro de duas almas

Que se vislumbram

Através da cortina de seis biliões de seres

E de histórias de vida

 

Tanto, tanto… que poderia não ter sido

Por ter sido outra coisa

Por ter sido outra gente, outro olhar, outro possível

E no meio de tanto impossível, de tanto poder não ser

De tanto que quase não foi

Foi, aconteceu, e é, e vive

Este amor

Tão ínfimo, na sua raridade

Tão grande, na sua magestade

Virtualidade sub-atómica de vir a ser

Que se tornou Cosmos de eu me viver

 

E este tesouro

Que eu me encontrei

Vivo-o inteiro

Por te ter encontrado

E se amanhã já não for

E isso não sei

Será sempre para sempre

Por amar-te agora

Com tudo o que sou

Fui e serei

 

Por isso este amor que quase não foi

Aconteceu porque teve de ser

Lei da causa e consequência

Porque se este amor

Não tivesse sido

Seria absurda a existência.
 

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