Saturday, December 5, 2020

Muitos nobres não são nobres 

Porque de nobreza são pobres 

Quando os olhas e descobres

 Que se vendem por uns cobres 


 Não se é nobre por herança

 Ou por se ter a maior pança

 De nobreza só há esperança

 No que o coração alcança 


 Pela força da verdade

 A Coragem na adversidade

 E dos jugos a liberdade 

Sob o sol da humildade


 E tu, nobreza mulher 

Que meu sentir tanto quer

 És mais nobre que um qualquer 

Pois não é nobre quem quer 


 És a nobreza natural 

Da coragem catedral 

Firmeza em frente ao mal 

No teu rugir visceral 


 Amo amar quem tu és

 Dançando flores e marés

 Entre a vitória e o revés 

Ajoelho-me a teus pés


 Na divina certeza

 Da tua força e grandeza 

Da luz da tua beleza

 No teu olhar fortaleza 


 Amo-te, mulher que me ama

 Que me reina e me dá chama

 Meu horizonte e minha cama 

Voz vida que me chama 


 E é tão nobre este amor 

Que rompe pedra e temor

 Silêncio, beijo e humor 

Altar, seara e andor 


 Na nossa primeira dança

 Cabo da Boa Esperança 

Éden, galope e segurança

 Desfraldaste meu olhar criança 


 Que é nobre, pela nossa dança…

Friday, January 17, 2020

Se eu desaparecesse agora
Talvez houvesse algumas
Pequenas ondas
De sentir falta
De alívio
Algumas
Ou alguns, curiosos, Ah foi?
Quando a notícia chegasse
Se eu já não fosse
Depois de escrever a última palavra
Do que escrevo agora
A vida seria vida
E as flores continuariam a crescer
O sol a nascer e a chuva a cair
E no outro lado da galáxia
Onde os sóis são outros
E de outras cores
Os átomos continuariam a explodir
Sem lamento ou memória
Do que eu teria sido ou não chegaria a ser
Nesta evidente pequenez de aqui estar
E de ser
Há dias em que o sentir falta, que sinto
Parece maior que todos os universos
E mais antigo que todas as existências
E todos os que estiveram e já não estão
E tudo o que poderia ter sido
E nunca chegou a ser
Tornam-se verdade e presença
Na ausência de não estarem
E de não serem
Em mim
E por mim
E eu escrevo lamechices
Fraco esconjuro
Da inevitabilidade
Pontas sem os nós
Que nos atavam
Aos olhares e corações
De quem dançava a mesma música
Sinto a falta de quem falta
De quem já não está
E que por eu sentir falta
Ainda cá está…

Nas veias do sentir
Navega-me desde sempre…
Uma intensidade indizível
E premente
Estremecimento vulcânico
E semente
Ânsia de impossível
Bem presente
Que me irradia
Desde que sou gente
Bramido que se alimenta
De voracidade
Chicote fervente
Da vontade
Luxúria vermelha
E tempestade
Animal aceso
E coroado
Sexo divino
E levantado
Uivo do louco
Desagrilhoado
Para me Ser
Tenho de ser
O que não posso ser
Ter o domínio
Do que não posso Ter
Furar o tabu
E mandá-lo foder
E os sátiros bêbados
Emprestam-me os cornos
Para eu marrar
Nos sentires mornos
E queimar as bandeiras
Em todos os fornos
E quando morrer
Que morra acordado
Sem vendas nos olhos
Nem amordaçado
E espalham-me as cinzas
Em todo o lado
Pois vivi vivo
E vivo morri
E fui mais eu
Por te ter a ti
E de Viver
Não desisti…