Wednesday, January 17, 2007

Gosto da mulher comum
Anónima, passa na rua sem me olhar
Leva consigo o mistério da estranheza
E o conforto da beleza familiar

Nela todas as histórias são possíveis
Porque dela não conheço história nenhuma
Provoca surpresa erótica porque não sabe que o faz
O desejo que desperta não sei de onde vem
Comichão interior que não sei coçar

Conforta-me este desconforto
Prazer silencioso no barulho da rua
Elevo-me da multidão por me sentir mais eu
Por isso faço-me notar

Ela olha-me
Uma cumplicidade inocente retira-nos dali
Estamos num espaço só nosso
Sorri-me, não sei bem porquê
Talvez precisasse de alguém a quem sorrir
E eu estava ali
Sorriso gratuito de quem não tem razão para sorrir
É o sorriso mais valioso

Continua a andar, no mesmo passo
A vida ainda é a mesma
A multidão ainda lá está
O barulho torna

Pestanejo
Volto a cabeça para a ver desaparecer
Um sorriso resignado move-me o rosto
Moldura nostálgica do futuro que podia ter sido

Pressinto um suspiro
Abano a cabeça alegremente
Como quando se descobre a humanidade do outro nos seus pequenos vícios

Já não estou tão sério
Os meus passos cantam pela rua quando volto a andar
Contente por estar contente
Obrigado mulher comum, pelo teu sorriso extraordinário

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