Thursday, January 18, 2007

Nunca me senti de pleno direito entre os vivos
Alguém me segurava por trás
Irritante e secretamente
Eu não conseguia passar o umbral para onde se vive

Olhei de fome o festim na firmeza das minhas metáforas
Saciando-me comendo apetite
Lástima subnutrida
Tanta barriga como olhos, palitando os dentes de nada

Comi-me nos banquetes do fingir, e dei-me a comer também
Em vénias disfarçadas de muito
Prazer do desprazer
Dos que se trocam em conversas de arrotos

Num salto de penúria rodei-me para quem me segurava
Rosto meu que lá estava
De eu para eu me virei
Não me queria vivo como os vivos

De estar e não estar ficava acordado
Umbilicalmente separado
Ver-me de não me querer viver
Só ser em desejar

Quando voltei aos comensais do come eu
Vi as mãos que os atavam
Mãos deles mesmos, como a minha
Na porta do vou viver

O meu meio-viver é quase inteiro
Porque o sei e porque o vejo
Passou-me a fome de ter fome
Vivo mais de não querer comer

Eu meio-vivo com quem já sabe
Da mão que o segura
Que é mais vivo que o que come
A fome de estar vivo.

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